Nasci
em Jacarepaguá, na extinta maternidade do Tanque, fui criada na Taquara, um
bairro do subúrbio, na Zona Oeste, do Rio de Janeiro, que atualmente é um
bairro meio chique. Estudei da 1ª. a 8ª.
série em escola pública, não fiz C.A, porque aprendi a ler com 4 anos. O ensino
médio, antigo 2o. grau, eu cursei na rede particular, no SUSE - Colégio e
Educandário Santa Edwiges. Fiz curso
técnico/profissionalizante. Nunca repeti de ano. Minha mãe era muito atenta as
notas, percebia quando eu precisava de reforço de escolar e sempre tive, até
mesmo no ensino médio. Ao longo dos anos, eu me adaptei a tudo, se sofri
bullying, passou batido. Eu era bem popular na escola. E falava com todo mundo.
Tudo era zoação. Brincávamos com quem usava óculos, aparelho dental (e os dos
anos 80 eram feios, viu), e olha todos que foram criados ou estudaram comigo, e
que tenho contato até hoje, ninguém teve ou tem trauma disso. Éramos todos humildes.
Eu
comecei a trabalhar bem cedo, fazia ensino médio, estudava na Cultura Inglesa
(naquela época o curso durava seis anos, era uma eternidade) e conciliava tudo,
pois só assim, eu seria alguém na vida. Naquela época ninguém tinha bolsa
família, cesta básica, e se quisesse renda extra tinha que ter dois, três
empregos ou colocar toda a família para trabalhar e ajudar no orçamento.
Minha
infância foi numa época que não existia Google e nem Wikipédia, mas existia as
enciclopédias, e minha mãe comprava todas, naqueles caras que vendiam de porta
em porta. Nossas pesquisas escolares eram através de livros e de bibliotecas
públicas, a mais próxima era a da Praça Seca, em Jacarepaguá, onde hoje eu moro.
Não se tirava xérox, a gente copiava a mão o que nos interessava dos livros. Até
os trabalhos entregues aos professores, as pesquisas, eram escritas a mãe, dava
até bolha. As minhas, algumas, quando a
professora deixava, eu datilografava, porque minha mãe tinha máquina em casa, e
eu aprendi a manusear cedo.
Nossa
bebida preferida era o famoso "Ki-Suco" (pó da morte), até em
festinhas. O de uva deixava a boca colorida. Ninguém morreu por isso kkkk. Refrigerante?
Era luxo. Ele era reservado aos fins de semana e festas, Coca-Cola, Fanta Uva, Grapette.
Crush na minha infância era um refrigerante. Ah! Tinha o guaraná Convenção, que
meu pai comprava caixas, mas que consumíamos com moderação. Era na garrafa
parecida com a de cerveja. E vendia de porta em porta.
O
uso do “Já vou” e do "Peraí mãe" era pra ficar um pouquinho mais na
rua e não no computador. Não havia computador na minha infância. Se fizesse
bobagem apanhava e ficava de castigo. Tomei muita hawaianada kkkk era assim que
minha mãe nos corrigia. E levei uma vez uma cintada, uma única vez, do meu pai.
Mereci. Saí de casa sem avisar a ninguém, pela manhã, e voltei à tarde, deixando
todo mundo preocupado. Levei muitas palmadas e estou aqui. As palmadas que meu pai
dava eram ruins porque ele tinha a mão pesada. Não me tornei uma rebelde e nem desajustada e estou
aqui, sem traumas.
Crianças
na minha época brincavam como crianças. Criança colecionava figurinha, papel de
carta, tinha diário. A gente não colecionava namorado, nem sabia o que era
isso. Eram todos amiguinhos. A gente batia nas figurinhas jogando bafo. Não era
hábito bater nos coleguinhas.
Na
escola, professor (a) era amado, respeitado e admirado, a gente levava até
presente para os tios e paras tias. Tia na minha época era a irmã da minha mãe
e as minhas professoras. Todos cantavam o Hino Nacional na entrada da escola. E
a diretora observava se a gente estava cantando mesmo ou se estava dublando. Eu
tive aula de artes, teatro e música na escola pública. Aprendi a pintar em
tecido, vidro, fazer vários artesanatos. Participei de coral e apresentei peças
infantis.
Nossas
brincadeiras, ....eu brincava na rua descalça. Tinha banco imobiliário,
casinha, arma de festim para brincar de polícia e ladrão, pega pega, pique
esconde, queimado, vôlei, pique bandeira, jogava bola de gude, soltava pipa,
brincava de casinha, carrinho, boneca. Usava shortinho, subia na mesa para
imitar a Gretchen, e não era erotizada ou recriminada por isso. Brincava na
rua, na praça, até anoitecer.
Roupas,
eu usava roupas infantis. Éramos crianças e não mini adultos. Usei kichute,
conga, bamba. Soltei bombinhas, cabeção de nego.
O
que assistia? Muita televisão, desenhos, como, Flintstones, Tom & Jerry, séries,
Jeanny é um gênio, Ilha da Fantasia, Profissão Perigo, Perdidos no Espaço, O
incrível Hulk, etc. Novela via todas, não tinha essa de classificação e filmes
também. Eu tinha Tv no quarto. Meu pai desligava quando achava que já estava na
hora de eu ir dormir, se não eu virava a noite assistindo tv.
Pó?
Os que conhecia era Ki-Suco e leite em pó ninho. Tomávamos Biotônico Fontoura,
tomei baldes, porque eu não gostava de comer, e não virei alcóolatra.
Traquinagens:
por mais que meus pais me educassem, e muito bem, eu voltava do catecismo
correndo, gastava o dinheiro da passagem tomando sorvete de máquina, e vinha
com minhas amigas e amigos, pela rua, tocando a campainha da casa dos outros.
Tínhamos
responsabilidades como tirar boas notas e fazer dever de casa. Nossa educação,
educação física na escola era de verdade. Tirava o coro.
Sobre
os amiguinhos, não importava se meu amiguinho era negro, branco, pardo, gordo,
magro, feio, bonito, pobre ou rico, menino ou menina, todo mundo brincava
junto, sem neura, sem palhaçada. Os meninos que brincavam de casinha com as meninas
não eram chamados de homossexuais por isso. Assim como as meninas que gostavam
de jogar futebol e soltar pipa não eram questionadas. Como era bom...
Como,
eu tenho saudades dessa época. Gostava de chuva, e ela tinha apenas cheiro de
terra molhada. Se os pais dessem mole, a gente estava lá tomando banho de chuva
e achava legal.
Dores,
as minhas eram o uso do merthiolate e o ardido da água oxigenada. Usávamos mercúrio
nos machucados também. Ah! E tinha um pozinho que colocavam no machucado para
cicatrizar mais rápido, não lembro o nome. Eu vivia ralada, rsrsrs, porque
vivia e brincava muito. Tenho boas lembranças e a certeza de que tive uma
infância feliz. Fiz de tudo para proporcionar o mesmo ao meu filho, ele teve
muitos amiguinhos, e os tem, os mesmos, desde a infância, até os dias atuais, e
brincou na rua, na praça.
Eu
temo por essa geração mimimi. Todas essas barbáries que est]ao por aí são reflexo
disso. Pessoas que não foram educadas para lidar com o NÃO, com FRUSTAÇÕES, que
não sabem ser CONTRARIADAS. Pessoas sem limites que agem sem limites.